Açaí tipo exportação é ralo
Estava hoje a conversar com um casal, ele armador - proprietário de estaleiro, para deixar claro - e ela, proprietária de uma venda de açaí situado em um movimentado point no centro de Belém e falaram-me que o que está a dar dinheeeiro é mexer com exportação de açaí.
Aqui, de onde a fruta é nativa, nossa cultura é tomar açaí puro, açaí grosso, no máximo com açúcar, farinha (de farofa, não de trigo, por favor) ou tapioca. Fora do estado, em comum conosco, só o açúcar eles utilizam: anos atrás vendedores começaram a comercializar açaí nos centros econômicos da nação crendo na aceitação do produto, porém perceberam o alto custo de vender por lá açaí como é vendido aqui, seria um preço impraticável: a solução foi misturar a exótica fruta com água, frutas comuns, tornando a bebida menos nobre, o preço acessível, diluindo e alterando seu sabor: uma colega goiana não gostou, alegou que açaí vendido lá tem gosto de banana com terra. Infelizmente o Brasil não conhece o verdadeiro gosto do açaí. Uma vez estava com parentes meus do Paraná no litoral do Estado do Rio, eles decidiram comprar o que lá nomenclam de açaí: deram-me um pouquinho, provei e simplesmente cospi na areia, muito doce, um milk shake com leve gosto de açaí ao fundo.
Em contradição com outros produtos brasileiros, o açaí tipo exportação não é o melhor do gênero: o que dá dinheiro é exportar açaí ralo, congelado, e no grande centro onde aportar, nem será derretido, será misturado com água, frutas que o mundo todo conhece, leite em pó,
e um copinho disso de 200 ou 300 ml será vendido a nada menos que insólitos R$ 5,00, enquanto que com o mesmíssimo valor, em Belém é possível comprar 1 litro de açaí grosso.
Exportar açaí ralo é bom pelo motivo de podermos suprir uma maior demanda do mercado e de sobrar mais açaí em nosso estado, não deixando seu preço subir tanto por aqui. Mas tem o outro lado de incentivar o consumo de açaí malhado: espero que isso não seja como a língua portuguesa: Portugal a criou, o Brasil a engoliu, a deturpou e hoje faz Portugal aprender isso que chamam de Português do Brasil (leia-se Português da Globo e dos migrantes brasileiros com baixa instrução), ou seja, espero que o Brasil continue a comprar nosso açaí, pagar bem por ele, mas não nos ensine a como tomar açaí, é como o cristão recém-convertido querer ensinar vigário a rezar missa.
Até nos Estados Unidos estão a vender isso que no sudeste brasileiro chamam de açaí, e o pior: falam que é do Rio de Janeiro. Tempos atrás vi uma reportagem da CNN, em inglês, falando dos benefícios dessa desconhecida frutinha da selva amazônica: e o engraçado é que os vendedores de açaí (industrializado, em caixinha, para deixar claro) usam-se disso como carro-chefe de seu marketing. Realmente o açaí é poderoso, porém só se consumi-lo em consideráveis quantidades, e não diluída com outros elementos, caso alveje-se seus benefícios nutricionais.
Espero que o Pará deixe de lado seu estigma de exportador de matérias primas brutas, no máximo semi-elaboradas, tanto para o resto do Brasil como para o exterior. Espero que à revelia da tradição empresarial do estado, os empreendedores regionais invistam no setor secundário, de transformação para agregar valor às nossas frutas. De roubo já basta os ingleses terem levado mudas nossas de Hevea brasiliensis e viabilizado a queda dos Lemos na dourada Belém da Belle Époque.
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