Hoje é dia do economista
Hoje completa exatamente 57 anos que o presidente Getúlio Vargas reconheceu a profissão de economista como oficial. Parabéns à nossa categoria.
Em comemoração, o Conselho Regional de Economia (CORECON/PA) ofereceu um evento com três momentos: palestra sobre o desaquecimento da economia global, a premiação dos três melhores TCCs de economia de 2007 e por fim um coquetel.
O palestrante foi um renomado economista, Ph.D. pela UNICAMP, muito boa palestra, a qual eu acredito que merece destaque e comentários aqui. Fazer uma análise na economia mundial e explicar como ela está a freiar-se não é tarefa fácil, porém bem explicada por ele. Expôs gráficos de crescimento mundial, dando ênfase na disputa entre os países ricos e países emergentes, já que o crescimento do PIB mundial foi puxado por esses dois grupos. Desde de 2004, os índices mundiais já apontam a frenagem no crescimento e uma possível recessão no cérebro do capitalismo, afetando todos os outros órgãos.
Citou os anos dourados do capitalismo, os quais começaram em 1930, mas principalmente após a II Guerra Mundial, sob as rédeas de economistas e das propostas keynesianas, de ampliação do mercado, regulação estatal, empenho na erradicação do desemprego, etc. Esse sistema logrou sucesso até a década de 1970, um dos principais motivos que contribuíram para o seu fim foi a crise do petróleo.
Análise da crise nos EUA
Segundo o próprio, nenhuma análise global de economia pode ser feita sem considerar os Estados Unidos - maior devedor, credor e consumidor do mundo. Comecemos então pela década de 1980: pela lei federal estadunidense, os bancos somente podiam exercer atividades de banco, nada mais. Com uma reforma jurídica, passaram a ter poder de prestar vários outros serviços, como seguros, saúde, previdência privada, etc, e entre eles, também financiamento da casa própria.
Insensibilidade nas análises de risco
Com o aumento das atividades, as instituições bancárias pararam de analisar os riscos dos empréstimos para apenas ficarem com suas atividades - terceirizaram as análises de risco para agências de riscos, as quais focalizavam-se principalmente nos rendimentos passados e pouco na burocracia de cada pedido, reduzindo a sensibilidade. Os bancos passaram a financiar casa própria com mais facilidade, a juros cada vez mais baixos (chamados subprime), em parcelas a perder de vista, a cada vez mais pessoas. Uma verdadeira promiscuidade financeira.
Investidores diretos
Para o banco emprestar dinheiro para casa própria, ele precisa de recursos, que vinham principalmente dos fundos mútuos e de aposentados. As hipotecas eram negociadas até no mercado financeiro: vários empresas de outros sub-ramos do ramo financeiro as compraram, assim como também compraram ações dessas hipotecárias.
A descoberta
Certo, depois de emprestar o dinheiro para casa própria, o banco vai querer receber parcelas, reaver seu dinheiro e contabilizar seus lucros, certo? Certo, mas aí que está o x da questão: recentemente, descobriu-se que nem todos os financiados teriam dinheiro, um dos motivos é justamente a alta no petróleo e outros fatores relativamente naturais.
Mais uma vez o problema foi de liquidez, colocou-se dinheiro e na hora da devolução, não há capital para devolver. Isso fez as hipotecas perderem quase todo seu valor, as ações das instituições financeiras despencarem, e pessoas a tentarem vender suas casas.
Impactos no setor financeiro global
O mercado financeiro - seja pela interação proximíssima de um ramo com o outro, seja pelo sensacionalismo especulatório poderosíssimo - é o primeiro a sentir os reflexos. Quando investidores enxergam que vai ocorrer um problema lá no futuro, imediatamente já tratam de livrar-se de seus títulos e papéis relacionados a tal setor. Mas as outras ações também acabando caindo pelo temor geral, e também porque alguns investidores vendem ações saudáveis para cobrir os prejuízos das afetáveis.
Impactos na economia real norte-americana
Já na economia real a coisa é mais séria, porém só será sentida a um prazo mais longo. Se muitas pessoas não têm onde morar e muitos investidores (pessoas comuns, participantes de fundos) não vão ver a cor de seu dinheiro de volta, mudarão sua forma de consumir, consumirão menos, logo gerarão desemprego no comércio e serviços, fazendo a população dos Estados Unidos consumirem menos.
Acredita-se que os prejuízos na economia real do mundo somará US$400 bilhões, enquanto no mercado financeiro (que tem mais plasticidade, onde lucros e prejuízos são amplificados) totalizará de US$1,5 trilhão.
Efeitos nos parceiros comerciais (Brasil também)
Se o maior consumidor do mundo está em crise, logicamente, seus fornecedores terão menos mercado. Os EUA também são o país que tem o maior déficit na balança comercial: boa parte da produção chinesa é exportada para lá. É justamente aí que entra o Brasil com destaque: é um imenso fornecedor de produtos primários para a indústria da China, onde os produtos são precessados e chegam ao mercado norte-americano. Logicamente, os chineses comprarão menos matérias-primas do Brasil, dificultando nossas exportações, fora falar das exportações diretas Brasil-EUA.
Títulos da dívida
O dinheiro que sai dos EUA na forma de importações dos países asiáticos é boa parte reaplicado na forma de compra de títulos da dívida pública federal estadunidense: os orientais detêm grande parcela desses títulos. Já que o país passa/passará por crise, o verdadeiro temor é que haja uma corrida para livrar-se desses títulos da dívida, o que dificultaria o governo de Washington de conseguir recursos.
Meu questinamento - proteger o cenário interno
Alguns questionamentos foram feitos ao Ph.D., então coloquei o meu: eu, sempre focado no capital, indústria e mercado nacionais, questionei se incrementar o mercado interno (poder de compra) brasileiro seria uma boa forma do Brasil esquivar-se do cenário global de desaquecimento da economia.
Sua resposta foi categórica: exatamente.
Em síntese, para o Brasil ficar mais protegido do cenário externo, ele deve aproximar-se da autosuficiência em produção e consumo: ou seja, produzir (quase) tudo o que consome e consumir (quase) tudo o que produz. Essa é uma das facetas maléficas do comércio exterior: fica-se dependente dos cenários externos. Claro, precisaríamos pluralizar e verticalizar a produção e indústria nacionais e principalmente criar mecanismos de distribuição de renda.
Falou ainda sobre o keynesianismo como chave para tirar os países do risco de recessão e de reforçar o poder de compra das sociedades; e que (infelizmente, segundo ele), os keynesianos e neokeynesianos não entenderam muito o legado de Lord Maynard Keynes, por isso dever-se-ia beber nas fontes diretamente de Keynes e menos junto a seus seguidores.
Hoje completa exatamente 57 anos que o presidente Getúlio Vargas reconheceu a profissão de economista como oficial. Parabéns à nossa categoria.
Em comemoração, o Conselho Regional de Economia (CORECON/PA) ofereceu um evento com três momentos: palestra sobre o desaquecimento da economia global, a premiação dos três melhores TCCs de economia de 2007 e por fim um coquetel.
O palestrante foi um renomado economista, Ph.D. pela UNICAMP, muito boa palestra, a qual eu acredito que merece destaque e comentários aqui. Fazer uma análise na economia mundial e explicar como ela está a freiar-se não é tarefa fácil, porém bem explicada por ele. Expôs gráficos de crescimento mundial, dando ênfase na disputa entre os países ricos e países emergentes, já que o crescimento do PIB mundial foi puxado por esses dois grupos. Desde de 2004, os índices mundiais já apontam a frenagem no crescimento e uma possível recessão no cérebro do capitalismo, afetando todos os outros órgãos.
Citou os anos dourados do capitalismo, os quais começaram em 1930, mas principalmente após a II Guerra Mundial, sob as rédeas de economistas e das propostas keynesianas, de ampliação do mercado, regulação estatal, empenho na erradicação do desemprego, etc. Esse sistema logrou sucesso até a década de 1970, um dos principais motivos que contribuíram para o seu fim foi a crise do petróleo.
Análise da crise nos EUA
Segundo o próprio, nenhuma análise global de economia pode ser feita sem considerar os Estados Unidos - maior devedor, credor e consumidor do mundo. Comecemos então pela década de 1980: pela lei federal estadunidense, os bancos somente podiam exercer atividades de banco, nada mais. Com uma reforma jurídica, passaram a ter poder de prestar vários outros serviços, como seguros, saúde, previdência privada, etc, e entre eles, também financiamento da casa própria.
Insensibilidade nas análises de risco
Com o aumento das atividades, as instituições bancárias pararam de analisar os riscos dos empréstimos para apenas ficarem com suas atividades - terceirizaram as análises de risco para agências de riscos, as quais focalizavam-se principalmente nos rendimentos passados e pouco na burocracia de cada pedido, reduzindo a sensibilidade. Os bancos passaram a financiar casa própria com mais facilidade, a juros cada vez mais baixos (chamados subprime), em parcelas a perder de vista, a cada vez mais pessoas. Uma verdadeira promiscuidade financeira.
Investidores diretos
Para o banco emprestar dinheiro para casa própria, ele precisa de recursos, que vinham principalmente dos fundos mútuos e de aposentados. As hipotecas eram negociadas até no mercado financeiro: vários empresas de outros sub-ramos do ramo financeiro as compraram, assim como também compraram ações dessas hipotecárias.
A descoberta
Certo, depois de emprestar o dinheiro para casa própria, o banco vai querer receber parcelas, reaver seu dinheiro e contabilizar seus lucros, certo? Certo, mas aí que está o x da questão: recentemente, descobriu-se que nem todos os financiados teriam dinheiro, um dos motivos é justamente a alta no petróleo e outros fatores relativamente naturais.
Mais uma vez o problema foi de liquidez, colocou-se dinheiro e na hora da devolução, não há capital para devolver. Isso fez as hipotecas perderem quase todo seu valor, as ações das instituições financeiras despencarem, e pessoas a tentarem vender suas casas.
Impactos no setor financeiro global
O mercado financeiro - seja pela interação proximíssima de um ramo com o outro, seja pelo sensacionalismo especulatório poderosíssimo - é o primeiro a sentir os reflexos. Quando investidores enxergam que vai ocorrer um problema lá no futuro, imediatamente já tratam de livrar-se de seus títulos e papéis relacionados a tal setor. Mas as outras ações também acabando caindo pelo temor geral, e também porque alguns investidores vendem ações saudáveis para cobrir os prejuízos das afetáveis.
Impactos na economia real norte-americana
Já na economia real a coisa é mais séria, porém só será sentida a um prazo mais longo. Se muitas pessoas não têm onde morar e muitos investidores (pessoas comuns, participantes de fundos) não vão ver a cor de seu dinheiro de volta, mudarão sua forma de consumir, consumirão menos, logo gerarão desemprego no comércio e serviços, fazendo a população dos Estados Unidos consumirem menos.
Acredita-se que os prejuízos na economia real do mundo somará US$400 bilhões, enquanto no mercado financeiro (que tem mais plasticidade, onde lucros e prejuízos são amplificados) totalizará de US$1,5 trilhão.
Efeitos nos parceiros comerciais (Brasil também)
Se o maior consumidor do mundo está em crise, logicamente, seus fornecedores terão menos mercado. Os EUA também são o país que tem o maior déficit na balança comercial: boa parte da produção chinesa é exportada para lá. É justamente aí que entra o Brasil com destaque: é um imenso fornecedor de produtos primários para a indústria da China, onde os produtos são precessados e chegam ao mercado norte-americano. Logicamente, os chineses comprarão menos matérias-primas do Brasil, dificultando nossas exportações, fora falar das exportações diretas Brasil-EUA.
Títulos da dívida
O dinheiro que sai dos EUA na forma de importações dos países asiáticos é boa parte reaplicado na forma de compra de títulos da dívida pública federal estadunidense: os orientais detêm grande parcela desses títulos. Já que o país passa/passará por crise, o verdadeiro temor é que haja uma corrida para livrar-se desses títulos da dívida, o que dificultaria o governo de Washington de conseguir recursos.
Meu questinamento - proteger o cenário interno
Alguns questionamentos foram feitos ao Ph.D., então coloquei o meu: eu, sempre focado no capital, indústria e mercado nacionais, questionei se incrementar o mercado interno (poder de compra) brasileiro seria uma boa forma do Brasil esquivar-se do cenário global de desaquecimento da economia.
Sua resposta foi categórica: exatamente.
Em síntese, para o Brasil ficar mais protegido do cenário externo, ele deve aproximar-se da autosuficiência em produção e consumo: ou seja, produzir (quase) tudo o que consome e consumir (quase) tudo o que produz. Essa é uma das facetas maléficas do comércio exterior: fica-se dependente dos cenários externos. Claro, precisaríamos pluralizar e verticalizar a produção e indústria nacionais e principalmente criar mecanismos de distribuição de renda.
Falou ainda sobre o keynesianismo como chave para tirar os países do risco de recessão e de reforçar o poder de compra das sociedades; e que (infelizmente, segundo ele), os keynesianos e neokeynesianos não entenderam muito o legado de Lord Maynard Keynes, por isso dever-se-ia beber nas fontes diretamente de Keynes e menos junto a seus seguidores.
Segundo o Ph.D., o crescimento econômico mundial nos tempos próximos está condicionado à intervenção do Estado e aos índices de confiança dos investidores no setor produtivo
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