A operação Brother Sam

A operação Brother Sam

Não, não é o nome onírico de mais uma operação da Polícia Federal para enjaular suspeitos (e soltá-los cinco dias depois). Trata-se de uma operação secreta dos Estados Unidos, revelada muito tempo depois. Em suma, previa o ataque físico dos EUA ao Brasil, caso as tropas militares anti-Goulart não conseguissem depor o presidente eleito, em 1964.

O golpe já estava preparado 10 anos antes
Para entendermos melhor o cenário de 1964, voltemos 10 anos no tempo. Poucos sabem, mas o golpe militar já estava pronto desde 1954, apenas esperando um clique para acontecer. O desejo de Washington era derrubar o também eleito Getúlio Vargas, pró-Nazista convicto e camuflado. Porém, com o suicídio do presidente, o caos tomou conta do Brasil e não foi possível a tentativa.

Historiadores dizem que o auto-magnicídio foi a maior jogada de Vargas, dando mais dez anos de democracia ao Brasil. Foi então possível termos mais três presidentes só entre 1954 e 1955, JK entre 1956 e 1961, Jânio Quadros com toda sua sandice e finalmente João Goulart.

Davam medo nos EUA
JK abriu o Brasil às multinacionais, construiu Brasília e manteve uma política próxima aos Estados Unidos - até aí não havia motivo de Temos a Washington. O medo veio com Jânio e Jango [Goulart] (dobradinha chamada Jan-Jan). O primeiro homenageou Fidel Castro com a comenda Cruzeiro do Sul no parlamento federal.

Quanto ao segundo, herdeiro político de Vargas, os EUA o viam com temor, acredintando ser comunista. Jango era grande fazendeiro, tinha o apoio de industriais e de outros setores capitalistas. O detalhe foi por ter promovido reforma agrária, uma série de outras reformas, aumentado o salário mínimo, feito agrados aos trabalhadores.

Era um nacionalista, nacionalizou refinarias de petróleo e empresas estrangeiras, dificultou a remessa de dinheiro para fora do país, ganhou a antipatia dos setores mais tradicionais da sociedade. Mas o principal foi tentar manter uma política externa independente, aliando-se a Al Nasser, chefe político do Egito, também líder do grupo de países "independentes" diante do chumbo grosso entre capitalistas e soviéticos. A proposta era negociar com os dois sem ser filiado a um deles.

Brother Sam
Consistia em toda uma infra-estrutura de guerra composta pelo envio de 100 toneladas de armas leves e munições, navios petroleiros com capacidade para 130 mil barris de combustível, uma esquadrilha de aviões de caça, um navio de transporte de helicópteros com a carga de 50 helicópteros com tripulação e armamento completo, um porta-aviões classe Forrestal, seis destróiers, um encouraçado, além de um navio de transporte de tropas, e 25 aviões C-135 para transporte de material bélico.


Um documento do Congresso estadunidense comprova a intervenção sem meias palavras:

[em inglês]
The role of the United States in these events was complex and at times contradictory. An anti-Goulart press campaign was conducted throughout 1963, and in 1964 the Johnson administration gave moral support to the campaign. Ambassador Lincoln Gordon later admitted that the embassy had given money to anti-Goulart candidates in the 1962 municipal elections and had encouraged the plotters; that many extra United States military and intelligence personnel were operating in Brazil; and that four United States Navy oil tankers and the carrier Forrestal , in an operation code-named Brother Sam, had stood off the coast in case of need during the 1964 coup. Washington immediately recognized the new government in 1964 and joined the chorus chanting that the coup d'état of the "democratic forces" had staved off the hand of international communism. In retrospect, it appears that the only foreign hand involved was Washington's, although the United States was not the principal actor in these events. Indeed, the hard-liners in the Brazilian military pressured Costa e Silva into promulgating the Fifth Institutional Act on December 13, 1968. This act gave the president dictatorial powers, dissolved Congress and state legislatures, suspended the constitution, and imposed censorship.


[traduzido]
O papel dos Estados Unidos nestes eventos era complexo e às vezes contraditório. Uma campanha de imprensa anti-Goulart foi administrada ao longo de 1963, e em 1964 apoiada por Johnson . O Embaixador Lincoln Gordon admitiu mais tarde que a embaixada tinha dado dinheiro a candidatos anti-Goulart nas eleições municipais de 1962 e encorajado os conspiradores; muitos agentes do exército dos Estados Unidos e pessoal extra da Agência de inteligência estavam operando no Brasil; havia quatro navios tanques e o porta-aviões Forrestal da Marinha dos Estados Unidos; a operação foi chamada Brother Sam. As forças estavam ao largo da costa e, em caso de necessidade durante o golpe 1964, agiriam rapidamente. Washington reconheceu o novo governo imediatamente ao golpe 1964 e uniu-se ao coro que cantava que o golpe de estado das "forças democráticas" barrou o comunismo internacional. Em retrospecto, parece que a única mão estrangeira envolvida era Washington, embora os Estados Unidos não fossem o ator principal nestes eventos. Na verdade, a linha dura do exército brasileiro, pressionou Costa e Silva em promulgar o Quinto Ato Institucional no dia 13 de dezembro de 1968. Este ato deu para o presidente poderes ditatoriais, o Congresso e assembléias legislativas foram dissolvidos, foi suspensa a constituição, e imposta a censura.

O país da liberdade
É, o país que se diz o oásis da democracia na Terra patrocinando os Anos de Chumbo no resto do mundo, principalmente no resto da América. Eu sou descendente de estadunidenses (coisa rara no Brasil) mas não desses homens que fizeram isso, e sim de uma região colonizada por Nova York, antes de eles colonizarem o resto do mundo.




Hoje em dia, a família de Jango reclama uma indenização milionária do governo estadunidense