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Sunday, August 17, 2008

Sensacional! Existe TU em inglês!

Sensacional! Existe TU em inglês!

Essa eu não poderia deixar passar em branco. Para quem aprendeu por anos a fio no curso de inglês que não existe qualquer diferença entre "tu" e "você", que ambos são "you", ontem a noite descobri que existe! A conversar pelo telefone com um colega paraense que tomou o Rio de Janeiro como morada, e agora é carióaca por opção, estávamos a conversar sobre língua portuguesa, ele falava-me dos momentos quando tem de imitar o sotaque do Rio e quando pode falar tranquilamente como amazonida. Em meio a conversa, ele, fervoroso cristão frequentador da igreja que meus parentes calvinistas trouxeram ao Pará, falou-me na possibilidade de ter encontrado um possível "tu" em inglês, percorrendo as páginas da bíblia utilizada em língua inglesa, já que meus consanguíneos são migrantes do estado da Carolina do Sul, nos Estados Unidos.
- "É thou art", disse ele.
Como incondicinal fã da conjugação em segunda pessoa do singular, fiquei impressionado e decidi anotar. Depois da conversa, fui direto ao computador e passei horas a fio durante essa madrugada pesquisando tudo sobre o primo britânico do nosso tu.

E é isso mesmo: ele existe e é thou, com todas suas quatro letrinhas, uma pronúncia aproximada de "dáu" (assim como pronucia-se "the", apenas substituindo-se o "ê" pelo "áu"). Paralelamente, pesquisei todas as palavras atreladas a ela, a relação:
tu = thou
ti = thee
te = thyself
teu/tua (sentido de your food) = thy
teu/tua (sentido de it's yours) = thine

Conjugação: thou + verbo + est caso o verbo termine em consoante ou st caso termine em vogal, como a seguir:
you talk = thou talkest
you sleep = thou sleepest
you smoke = thou smokest
you drive = thou drivest
you travel = thou travelest

excepções:
you are = thou art
you go = thou goest (por ser curto)

A comparar, achei bem parecido com a língua portuguesa, tanto na grafia de thou com tu e com theeti, mas principalmente nas terminações madest, spokest, tookest com os nossos fizeste, falaste, pegaste...

A explicação histórica é que a cojugação thou era comumente usada pelos ingleses nas famílias, entre amigos, colegas, enfim, entre pessoas próximas em geral, deixando o you para convivência com pessoas distantes e em situações formais: assim como diferenciamos tu e você até hoje na Amazônia, em Portugal e as línguas francesa e espanhola em quase toda sua cobertura terreste. Porém, ao longo da Revolução Industrial, a mídia e o marketing pesados foram pregando cada vez mais a conjugação formal para situações informais, o you, implementando um processo de marginalização do thou. Crível? A Revolução Industrial também tratou de industrializar a cultura: empobreceu o vocabulário e o massificou. Hoje em dia nos Estados Unidos, nem nas escolas estuda-se mais a cojugação na segunda pessoa do singular: ela é taxada como insólita, arcaica, muito formal, poética, romântica.. ou seja, por força da industrialização cultural, uma conjugação informal desde seu DNA, virou conhecida formal até a alma. Na atualidade, só é falada cotidianamente no interior da Inglaterra e da Escócia, pelo menos isso.

Parece mesmo que a história é cíclica, a ler essas narrações, vi com perfeita nitidez o que a industria cultural do Sudeste brasileiro promove com o resto dos falantes da língua, no Brasil e no mundo, aos que já falam português ou anceiam aprender: captura-se o ensumo (língua real), descarta-se termos úteis, reduz-se para termos o mais repetitivos e curtos possível, valoriza-se o formal para situações informais, adota-se apenas alguns termos informas (para conviverem na mesma frase com expressões formais, destoando), empobre-se o vocabulário, aplica-se uma injeção de estrangeirismo (mesmo para palavras com uma ou mais correspondentes em português), repete-se, repete-se, repete-se, massifica-se e pronto: está prontinha uma nova língua, soft e massificada, um verdadeiro idioma enlatado pronto para consumo, com condimentos, etiqueta da marca, validade ao fundo, lote de fabricação e tudo mais. Consumir gelado, agite antes de beber.

Ainda a conversar com meu amigo parêanse, recebi a notícia de possivelmente o Brasil abolir o como segunda pessoa do singular e implementar oficialmente o tuvocê: ao invés de cojugarmos eu sou, tu és, ele é, conjugaríamos eu sou, você é, ele é. Acredito que poucas pessoas conheçam o significado de você: vem de vossa mercê, falado somente quando o falante está à mercê do ouvinte, só quando depende de sua caridade para existir, é como um servo falando a seu senhor, depois, por processo de industrialização cultural, tornou-se vós mercê, e finalmente você, enquanto o tu mantêm-se tu o tempo todo.

Existe uma família de capixabas muito cultos, os quais considero a extensão da minha família, o irmão mais novo foi passar uns meses no Chile, intercâmbio de língua espanhola: falou-me que morar em Belém foi uma grande ajuda no aprendizado daquela língua, devido quase todo hispanofônico conjugar os verbos na segunda pessoa do singular. Alguns anos atrás, em férias pelo interior do Estado de São Paulo, tive a oportunidade de conversar com uma senhora muito simpática nativa do local: perguntou muitas coisas sobre Belém, falou-me muitas coisas sobre sua cidade, trocamos diversas informações, e uma delas eu ainda não conhecia: foi justamente que por lá, falar tu és, tu foste soa como arcaico, pedante e pasmai, até poético e romântico, identico como a conjugação de thou soa nos Estados Unidos.

Não sei por qual motivo essa repreensão da mídia para com os termos informais. Por sinal, considero muito interessante a Tv Cultura do Pará, operada através da Funtelpa, órgão do governo estadual, usar a muito tempo, em quase sua totalidade nos programas, verbos conjugados em segunda pessoa para transmissões regionais, principalmente em programas infantis para crianças aprenderem a língua-mãe dessa forma e não como a Xuxa ensinaria.

Que tal abrirmos uma campanha cultural influenciando a mídia a parar com essa marginalização? Isso só gera uma depauperização da língua e inversão de valores. Não prego uma perseguição ao enlatado, mas sim uma co-existência pacífica, apenas um respeito da mídia junto ao fato de tu chegaste, tu falaste ser nada mais que informal e cotianamente utilizado em diversas regiões da língua portuguesa. Caso fiquemos parados, o tu poderá terminar assim como seu primo thou: restrito ao interior de seu país europeu de origem.

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