Antigamente existia uma mão-de-obra muito barata, sem salário: era o trabalho escravo, onde um homem pertence a outro. Produzir era ainda mais barato e os ganhos eram maiores.
Porém, a Inglaterra viu que escravo não tinha renda, logo, não poderia consumir os produtos industriais (ingleses). Visando aumentar o poder aquisitivo da sociedade brasileira para vender mais, o Reino Unido forçou de todas as maneiras, e conseguiu, acabar com escravidão. O empresário passou a ter um pouco menos de lucro. Em compensação, ex-escravo passou a ter um salarinho e começou a frequentar biroscas, padarias, mercadinhos, enfim, a aquecer o setor de comércio e serviços.
Quem ganhou com isso?
Temos dois pontos de vista: com essa melhor distribuição de renda, a classe comerciante ganhou no sentido econômico, por ter mais clientela; e os ex-escravos ganharam no sentido de consumo, passaram a ter uma vida um pouco mais digna, podendo escolher os produtos e tendo acesso - um pouquinho maior - a tais.
Desde lá, prega-se o ideal de trabalho assalariado, onde o trabalhor tem a liberdade de escolher seu emprego, seu patrão, sua moradia e quais produtos deseja ou não consemir; uma sociedade onde a pessoa não tem dono e ganha pelo que produz.
Quando alguém trabalha para uma empresa, para um patrão ou algo similar que vise o lucro, ele nunca ganhará pelo 100% que produz: ganhará uma boa parte e o resto irá para os bolsos do investidor, de quem detém aquele meio de produção.
O paradigma
Assim sendo, se um trabalhor desempenhar o mesmíssimo trabalho, nas mesmas condições, ele terá uma maior renda mensal se trabalhar por si só do que trabalhando para um patrão. Na época da escravidão, o trabalhador recebia muito pouco do que produzia; hoje, na época do salário, o funcionário recebe boa parte de sua produção; já o trabalhador autônomo, recebe simplesmente por tudo o que produz: é o máximo, o limite.
Poderíamos até chamar de Neoabolição esse segundo evento que levaria o trabalhador a trabalhar por si só, já que o primeiro (abolição) levou-o a deixar de trabalhar de graça para fazê-lo em troca de um salário. Trabalhar em cooperativa seria um exemplo disso.
Claro, aqui falo dos trabalhadores que não são funcionários públicos, já que a premissa do funcionalismo público é prestar serviços à sociedade e não de gerar lucros à investidores. O funcionário público poderia ser visto relativamente como um modelo do trabalho autônomo, já que trabalha sem mais-valia.
Mas, qual seria a finalidade?
Trabalhar sem ter patrão parece o sonho de muitos, dar as próprias diretrizes e horários, etc, discurso utilizado até por distribuidores de empresas com esquema-de-pirâmide, mas não é essa a principal finalidade. A meta, se assim pode ser chamada, seria gerar um efeito parecido com o a abolição da escravatura: dar ao trabalhador uma maior fatia daquilo que ele próprio produz.
Logicamente, vai ocorrer algo similar com a pós-abolição: os restaurantes terão mais clientes, os supermercados venderão mais, as empresas aéreas venderão mais passagens turísticas, etc. Ou seja, com mais trabalhadores autônomos na sociedade, essa sociedade terá maior poder de compra: o setor de comércio e serviços será aquecido.
E, novamente, quem ganha com isso? Novamente a mesma resposta: os empresários do comércio e serviços, no aspecto econômico; e os que trabalhadores autonomatizados, no aspecto de ter um consumo mais digno.
Se houvesse um esquema representando a evolução das relações de trabalho, assim seria:
O capitalismo é isso, se alguém abre mão do lucro "aqui" (lucro direto), outro lucra 2x "mais a diante" (lucro indireto). O ideal seria deixar a população comum explorar esse "aqui" (agropecuária, por exemplo) e os empresários nesse "mais a diante" (supermercados, por exemplo), viabilizando o progresso de todos.
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